O paradigma do Cheshire Cat na gestão de produtos
- Wagner Borba
- Sep 9, 2024
- 3 min read
"Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve"
Lewis Carroll, matemático e professor de lógica na Universidade de Cambridge, escreveu a lendária obra Alice no País das Maravilhas em 1865. A história de uma menina que, ao seguir um coelho branco em direção a uma árvore, cai em um buraco e se depara com um mundo completamente lúdico, onde as leis que regem sua covivência simplesmente colapsam e praticamente nada (no primeiro momento) faz sentido.
Tão conhecida como o início dessa história é a passagem de Alice onde ela dialoga com um gato sorridente e esquisito - ora apenas seu sorriso era visível, ora partes do seu corpo - em que, questionado para onde daria uma determinada estrada ele retruca com outra pergunta: "mas para onde você está indo?" e ela responde: "eu não sei, estou perdida". E então ele faz a secular afirmação:
"Para quem não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve."
Este é o Cheshire Cat (ou Gato Risonho). Uma figura que nos remete ao questionamento mais fantástico e perverso da vida. As coisas feitas com um propósito sempre levam uma carga de confiança maior do que é feito de forma aleatória, buscando perguntas para uma resposta.

Quando falamos de produtos digitais, não estamos necessariamente dissertando sobre um universo lúdico e mágico, mas necessariamente definido na mais pura filosofia. Um produto sem visão e necessariamente sem estratégia corre o risco de ser utilizado como um "balcão de pedidos aleatórios" que, não necessariamente, resolve um problema ou atende as corretas demandas. Ao contrário do que muitos possam pensar, há um abismo dantesco etre definir um uma visão e alinhar essa visão com todos os stakeholders. Aliás, muitas vezes é uma missão inglória.
A visão do produto
Podemos definir a visão de um produto digital com belas palavras e bastante eufemismo, mas o que é padrão, o que está no cerne dessa definição, está intimamente ligado com o dilema da Alice: qualquer caminho te serve? E se eu te falar que a visão do produto tem muito mais a ver com o "mirar nas estrelas" do que com o "chegar às nuvens"? Muitos stakeholders não compram a ideia encutida na visão dos produtos porque, de fato, tem pouco apego com a visão de longo prazo (e tá tudo bem). Muitas pessoas de produto são corriqueiramente criticadas por "tentar complicar demais um passe de 2m (como dizem os boleiros)", mas fato é que as decisões do produto hoje refletem diretamente nos seus paradigmas no futuro.
Como construir uma visão?
Se existe algo que tenho pouco ou quase nenhum afeto é com uma figura de escalável proliferação denominada guru. Portanto não há aqui a intenção de trazer uma ideia de "a melhor forma" ou "a mais assertiva. Pensando em simplificar as coisas, podemos pensar na visão de um produto pensando mais ou menos assim:
Por que? Para que? e Para quem?
Exemplo hipotético:
Ser o maior marketplace de seguros da América Latina, a fim de oferecer as melhores condições do mercado e a experiência mais fluida para nossos clientes e parceiros.
Sem precisar ser muito detalhista, mas só em uma frase já criamos algumas amarras importates para delimitar "o balcão de pedidos". Dentro dessa perspectiva, o que podemos transmitir nessa visão em termos práticos?
Ser o maior marketplace e oferecer as melhores condições implica em embarcarmos a maior quantidade de parceiros, incentivando a livre concorrência.
Propostas: investir em iniciativas que possibilitem embarcar grandes parcerias, com maior grau de personalização.
Ter experiência fluida nos direciona a pensar em otimizar processos onerosos, investir em design, olhar para as dívidas técnicas, infraestrutura e pensar nos dados para criar experiências preditivas.
Sem entrar em muitos detalhes já transformamos o nosso produto em um "vetor: com módulo, sentido e direção".
E aqui entendemos que o paradigma do Cheshire Cat nos oferece uma possibilidade de pensarmos nas bordas que limitam a evolução do produto, sem desviar o caminho ou se perder porque, ao contrário da Alice, já se sabe onde quer chegar.
Wagner Borba
Senior Product Manager
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